terça-feira, 18 de outubro de 2011

O passado abrindo de súbito seu baú mofado para trazer de volta fantasmas esquecidos.
|Caio Fernando|


Seria um telefonema a mais, mas não. Número desconhecido, ela atendeu distraída, mas não o suficiente para não reconhecer aquela voz.
[...]
“Não suporto mais essa distância, posso te ver?”
“Por que agora? Não estou entendendo”
“Só agora é maior que eu, só agora toda a saudade me consumiu!”
“Preciso desligar.”
Não houve resposta, mas a indiferença trouxe a tona sentimentos do passado, a dor e saudade, o amor correndo nas veias e o rancor que nem o tempo foi capaz de apagar por completo, haviam resquícios, esquecidos, mas estavam lá.
O telefone tocou novamente, ela hesitou, mas atendeu.
“Custa me escutar por um segundo, o amor não é pontual, você pensa que foi fácil pra mim? Eu sei que eu errei, mas já faz dois anos (Pausa)... E... Eu mudei.”
“Você me deixou no altar no dia que pensei que fosse o mais feliz da minha vida e a única coisa que me diz sobre isso é que mudou? Dois anos indignos que você sequer apareceu para se explicar.”
“Eu era um menino e eu não passei um dia sequer sem me lembrar de você e de minha falta de coragem, eu não podia assumir um compromisso, quer saber, eu tinha muito medo de ser feliz. E se só hoje estou ligando, é porque para mim não fácil criar coragem, ser digno para falar com você... Perdão.”
(Ambos choravam torrencialmente)
“Se é isso que você quer, está perdoado. Tchau.”
“Se você me amou, se existe amor, se você entende o que eu sinto, me dê outra chance. Olha, eu posso me casar com você agora, podemos ter os dois filhos que sonhamos naquele deck olhando a lua, lembra? A gente pode ser feliz para sempre, meu amor. Eu te prometo.”
“Pare, por favor. Ninguém precisa passar por isso. Esqueça o que passou, continue sua vidinha cômoda em Londres e me deixe em paz. Continue a fazer o que fazia antes, viaje, aproveite sua amada solteirice e não pense mais em mim, não espere nada de mim, esqueça...”
“Me escuta, por favor, meu Deus, eu te amo...”
“Mas isso não é tudo.”
E foi a última coisa que ele ouviu naquele telefonema. Sua consciência latejou de arrependimento, mas como ela havia dito, não bastava. Ele compreendeu que só estava colhendo o que um dia plantou e por fim, se conformou.
Os dois ainda se encontraram pela vida, afinal, o mundo é pequeno. E por trás de comprimentos e sorrisos formais, ficou um enorme baú de memórias que só, só nesses encontros se abriam em uma brechinha de lembrança, bem pequena, que é pra não doer.

|Janaína Ferraz|


7 comentários:

  1. '... que é pra não doer!'

    Tão lindo e, tão forte!

    (*=

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  2. Aiii que saudades daquii!
    Como vc tah sua linda?
    Jana passei mto tempo afastada,
    mas tinha que vir aquii,
    gosto tanto das suas palavras menina!

    Beijos e fique com Deus*

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  3. Ei, mais que saudade daqui. Sempre conseguindo me conquistar, sim? Vale à pena ser lido e comentado. ^^ Bem, eu sou a dona do Eppifania. Andei meio desativada, mas estou voltando com força total. Espero contar com sua presença e críticas. O Blog ainda está em tempo de reformas, mas sempre é bom uma dicazinha, não é? Te espero lá, posso contar com a sua presença? Beijão.

    http://eppifania.blogspot.com/

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  4. Importante não é tanto o fechar da gaveta mas o que se guarda nela. O passado nunca rompe connosco. Mesmo. :)

    Boa semana!

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  5. Jana, que texto bonito, vc consegue passar bem a tristeza da moça e seu desprezo... Mas o mais impressionante é essa vontade de esquecer o passado... :) Gostei muito, até mais, bjo!

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  6. Envolvente texto, você escreve muito bem!
    Parabéns por seu conteúdo, abraço.

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  7. Passei para desejar um Feliz Natal cheio de surpresas agradáveis junto das pessoas que mais amas. Beijo =)

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Tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. (Caio F.)